A obviedade costuma ser evitada em texto ou fala que se pretende minimamente capaz de atrair algum interesse. Por outro lado, obviedades são facilmente manipuladas por aqueles que nada tem a dizer, mas se apresentam como oradores ou escritores capazes de entorpecer mentes fazendo com que pessoas exploradas façam o jogo dos exploradores. Por outro lado ainda, e aqui fica minha crença de que nada tem apenas dois lados, o óbvio em determinadas circunstâncias, passa a ser indispensável para se reestabelecer, recuperar, as bases daquilo que definimos no decorrer do processo civilizatório como convivência em sociedade. O Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, em seu discurso de posse, bem nos mostrou isso dizendo que cada cidadão que compõe a população brasileira existe e tem valor.

Longe da capacidade e conhecimento do ministro, me atrevo a trazer algumas obviedades para esta coluna.

Como parte do processo civilizatório – pensando o ocidente e deixando de fora a organização dos povos originários com os quais ainda temos muito o que aprender –  a humanidade chegou até a democracia – ainda imperfeita como todos sabemos –  concluindo que organizar a sociedade através de grupos representativos de diferentes segmentos, contribui para uma governabilidade mais justa, visto que as instâncias, tanto horizontais, como deveriam ser as internacionais, quanto as de cunho hierárquico como costumam ser as governamentais, a partir destes grupos de representatividade podem ter uma visão mais ampla das diversas demandas existentes.

Essa organização em segmentos é tão importante que passa a ser critério, inclusive, para distribuição de recursos, de instâncias superiores até as de base (federal, estadual, municipal até os bairros).

Tudo óbvio…

Passando, então, para outra obviedade.

Se estes segmentos de representatividade não forem meramente figurativos visando atender requisitos para recebimento de benefícios, eles terão voz nas reuniões deliberativas. Tendo voz é certo que divergências ocorrerão e neste momento será necessário se chegar a um consenso. Entre tantos significados da palavra “política” está o de busca de consenso racionalmente fundamentado para resolução de conflitos já que desde o momento em que os primeiros seres humanos perceberam que vivendo em grupo teriam mais chances de sobreviver, tiveram de lançar mão da política para garantir a possibilidade de convivência, estabelecendo limites de ação e deveres comuns. 

 

Chegar num consenso racionalmente fundamentado ou convencer alguém a partir de argumentos racionais é diferente de convencer pela força, pelo poder econômico ou pela imposição da vontade de uma pessoa ou instituição sobre os indivíduos. Quando o impasse se dá num ambiente democrático a questão não é a de quem ganha a discussão impondo sua vontade e sim a de como se chegará ao consenso e para isso a política ainda é o grande recurso.

 Infelizmente estamos vivendo sob o fenômeno da demonização da política. Marcia Tiburi em artigo para a revista Cult nos fala de como a política vem sendo tratada como o grande mal da nação.

 Demonizar a política tem um motivo muito claro, o de que quanto menos gente envolvida melhor para quem dela quer tirar proveito. Para fazer com que o cidadão comum se afaste da política é necessário que ela pareça torpe, suja e abominável, coisa de gente desonesta, e aí entra o discurso da corrupção que deixa de ser tratada com seriedade e nos limites legais para ser elemento de fala daquele que pretende que seus interesses prevaleçam sobre as necessidades da coletividade.

 Sempre que as elites econômicas perdem poder político o discurso da corrupção é utilizado com denúncias vazias, presunções inconstitucionais e sem provas concretas. Assim foi contra Getúlio, Juscelino, João Goulart, Brizola, Lula e qualquer político ou administrador que julgue importante as necessidades de todo o cidadão.

 Para que a elite econômica mantenha o poder político em suas mãos é necessário que a população seja mantida longe, desinteressada e alienada da política. Só assim pessoas exploradas fazem o jogo do explorador, ajudando inclusive a compor todo um poder legislativo e executivo que não representa a grande massa da população brasileira, suas necessidades e direitos. É através de uma população despolitizada que aí sim, políticos interessados apenas em tirar proveitos pessoais de recursos que são públicos, serão eleitos. É na despolitização da população que a corrupção encontra terreno fértil para se estabelecer.

 Resgatar a política, valorizá-la, fazer bom uso dela no nosso dia a dia é garantir o direito a uma vida digna através do reconhecimento da voz de todos.