No período eleitoral de 2018 fui tomada por uma sensação de impedimento. Não era possível para mim falar sobre arte naquele ano. Era tamanho meu espanto em ver a pulsão de morte ser ovacionada, que paralisei. Paralisei ao ouvir  o elogio a torturadores, o incitamento a silenciar o outro, não só através da desqualificação de sua fala, mas pela eliminação física do diferente, ao ver que os maiores desatinos eram compartilhados em redes sociais sem que houvesse uma análise mínima de quão ilógica e absurda era a mensagem recebida. Fui tomada por um pânico da consciência de saber o quanto são intrincados e eficientes os mecanismos de manipulação de massas. Mas foi justamente a arte que de certa maneira me resgatou. Passei a fazer trabalhos de fundo político, passei a estudar a formação da nossa sociedade para saber que bases eram essas que permitiam a aceitação, por parte da maioria da população, de uma proposta política e econômica prejudicial a essa maioria. Busquei entender como pode ser tão eficiente o uso do bizarro e das falsas pautas morais para encobrir os propósitos de um pensamento econômico e político.

Passados quatro anos de insanidade agravadas por uma pandemia, posso dizer que apesar do terror, foi um período de aprendizado proporcionado por aqueles que se detiveram em entender o que aconteceu nos oferecendo teses, artigos, livros e lives que vão da filosofia, sociologia até a psicanálise, descortinando o que sempre esteve presente em nosso meio, mas era dissimulado por versões claramente destinadas a atender interesses históricos de uma pequena parcela da nossa população. Passados esses quatro anos e estando novamente diante do período eleitoral, me sinto mais preparada, não menos horrorizada visto que os absurdos se repetem, mas não estou paralisada. Continuo assustada e decepcionada, porém consigo falar de arte, mais ainda, tenho a consciência da importância de falar de arte nesse momento.

E nesse espírito que fui assistir a entrega dos prêmios do 23° Salão de Artes Plástica da Câmara Municipal de Porto Alegre. Um dos poucos salões que se mantém apesar da crise que estamos vivendo, e mais, se mantém com premiação em valores monetários e um belo e importante catálogo.

A modalidade de salão oferece ao espectador uma mostra do que vem sendo produzido pelos artistas do nosso estado. Podemos perceber uma forte presença da figuração nas mais diversas técnicas, sobretudo na pintura, com representação de ambientes internos, detalhes do corpo ou de objetos, o que nos faz pensar no efeito da pandemia e do recolhimento forçado. Presente também a fotografia, inclusive em em grandes dimensões, a arte digital, instalações, objetos e o vídeo – em menor número se comparado a eventos anteriores. Outra característica deste salão foi a de não restringir as inscrições à jovens artistas. Isso propicia, tanto para o público como estre os artistas, a troca de diferentes experiências estéticas de forma muito enriquecedora.

Foi grande a alegria de ver selecionados, dentre 110 inscrições, os trabalhos de três artistas que residem em São Leopoldo e maior ainda a expectativa no momento da premiação.

CACAU WEIMER, natural e residente em São Leopoldo, foi premiada com o trabalho intitulado Canto, de 2021, utilizando acrílica sobre tela e nas dimensões de 90 x 70cm. O tema é o espaço interno doméstico que vem fazendo parte de sua investigação poética, assim como a pintura. Cacau é Graduada em Licenciatura em Artes Visuais pela UFRGS e atual Bacharelanda também em artes, na mesma instituição. Além de artista é professora de artes na Educação Básica.

CACAU WEIMER, natural e residente em São Leopoldo, foi premiada com o trabalho intitulado Canto, de 2021, utilizando acrílica sobre tela e nas dimensões de 90 x 70cm. O tema é o espaço interno doméstico que vem fazendo parte de sua investigação poética, assim como a pintura. Cacau é Graduada em Licenciatura em Artes Visuais pela UFRGS e atual Bacharelanda também em artes, na mesma instituição. Além de artista é professora de artes na Educação Básica.

ROGÉRIO SEVERO é natural de Uruguaiana. Recebeu prêmio com a pintura nas dimensões de 190 x 234cm, realizada em tinta e carvão sobre tela no ano de 2021.  Assim como nas grandes instalações, que também fazem parte do trabalho de Rogério, a tensão entre linhas, os objetos simbólicos e a transparência aparecem na série de pinturas selecionadas e nesta ao lado que foi  premiada. É Bacharel em Artes Plásticas com Especialização em Poéticas Visuais, ambas na Feevale – Novo Hamburgo. Com vasto percurso nas artes já acumula diversos prêmios de importantes instituições como FUNARTE, Itaú Cultural, IEAVI (Instituto de Artes Visuais do RGS), Prêmio Açorianos e outros.

RODRIGUEZ (Sérgio Rodriguez) é natural de Canoas. Foi selecionado com o desenho intitulado Antropoceno, de 2022, realizado com nanquim sobre papel, nas dimensões 29,7 x 126cm. Seu trabalho nos leva à uma vasta paisagem de horizonte profundo. O vasto atingido a partir do mínimo – o grafismo e o monocromático. Rodriguez, que já foi premiado nesse salão no ano de 2000, possui obras no acervo do MARGS (Museu de Artes do RGS) e MACRS (Museu de Arte Contemporânea do RGS). É membro fundador do coletivo de arte e design Máfia Líquida e publicou em parceria com MIS/SP a HQ experimental Laboratório Monks 96p.

Infelizmente São Leopoldo ainda não possui um espaço destinado às artes visuais, adequado para abrigar uma exposição significativa da obra destes três artistas e assim apresentá-la à nossa comunidade. Essa é uma antiga reivindicação do setor e continuamos lutando por ele.

Os premiados no salão foram:

Prêmio Aquisição – Caroline Veilson, com a obra “Sombra #7

Prêmio Incentivo à Criatividade – Andréa Bracher, Bruno Tamboreno, Caroline Mello Weimer, Elenise Xisto, e Rogério Severo.

Menção Honrosa – André Vieira, Leandro Machado, Manoela Farias Nogueira, e Rose Osório.