O trabalho do artista visual, assim como os demais, não inicia no momento em que ele se vê diante do seu meio de expressão ainda sem sua intervenção, seja a tela em branco, o papel, o muro, a madeira, o barro, os fios de lã ou linha ou quando, em posse de sua filmadora ou máquina fotográfica, sai em busca de imagens. Não começa aí e não termina quando ele dá por concluída sua intervenção em qualquer dos meios. O trabalho inicia num longo percurso de entendimento do seu campo que passa pelo conhecimento da história da arte, mas vai muito além disso. Percorre caminhos que cruzam com os da filosofia, da sociologia, da antropologia, da psicologia. Das ciências humanas às exatas, da magia ao rigor científico. E não termina quando sua ação resultou em um objeto, uma ação ou uma intervenção dada por ele como concluída. O artista, mesmo aqueles que contam com o auxilio dos curadores, ainda pensa em como fazer chegar ao publico o seu trabalho, como apresentar, quem vai ter acesso à sua criação, de que forma seu trabalho estará sendo apresentado, se o espaço oferecido será adequado à sua proposta ou como as pessoas chegam até esse local, se existe ou não um programa educativo que leve às escolas até a mostra. Tudo faz parte do processo do artista.
São muitas as questões e o poder público tem papel fundamental nesse processo. Quando estiver interessado no desenvolvimento cultural e intelectual da população, se empenhará em oferecer os meios para uma formação de excelência, para o desenvolvimento, a apresentação, a divulgação e acesso da população à produção dos artistas e pensadores. Quando não existe interesse no desenvolvimento do pensamento crítico, o poder público também terá importância fundamental, pois é ele que definirá os cortes dos investimentos no setor, considerados neste cenário como “gastos”, mais ainda, “gastos supérfluos”, destinando, por outro lado, verbas para produções que gerem massas facilmente manipuláveis.
Nosso município possui, através da Secretaria de Cultura e Relações Internacionais, na forma do Conselho Municipal de Políticas Culturais, uma escuta para as demandas do setor organizado a partir de fóruns que representam diferentes seguimentos como o da música, teatro, artes visuais, carnaval e outros, num total de 14 fóruns. Recentemente foi realizada a Conferência de Cultura onde ficou claro que existe um entendimento de todas as partes, inclusive do poder público, que além do que já foi construído, ainda há muito o que fazer. O setor das Artes Visuais, por exemplo, apresentou entre suas reivindicações a de previsão orçamentária específica para o setor que venham oportunizar seminários, editais e programas regulares que promovam o aperfeiçoamento, a realização e apresentação da produção artística local e o reconhecimento da importância deste seguimento tanto na produção de conhecimento como no campo da economia criativa geradora de renda e impostos que revertem ao município.
A grande comunidade artística de São Leopoldo é prova do potencial criativo desta cidade. Agora, passado o pior da pandemia, podemos novamente desfrutar os espaços públicos com atividades que passam pela música erudita, roda de samba ou Hip Hop. Que vão da dança, performances e teatro de rua ao balé clássico e peças apresentadas nas dependências do Teatro Municipal totalmente restaurado. Desfrutamos das incríveis atividades que estão sendo realizadas no Museu do Trem sob a direção dedicada de Alice Bemvenuti e o retorno do Sarau do Rio. Nas artes visuais, recentemente tivemos a mostra de gravuras de Lurdi Blauth no novo espaço que o Tabelionato Castellan reservou para esse fim. E no último dia 4 tivemos a abertura da mostra ACDA Homenageia São Leopoldo, realizada na Galeria Liana Brandão, no Centro Cultural José Pedro Boéssio.
A ACDA – Associação Caminho Das Artes – reúne artistas e artesãos com o objetivo de divulgar os trabalhos através de um mapa e uma rota que percorre os diferentes ateliers. A idealizadora Helena Rossi Tavares e também presidente da associação, e Kláu Brentano, artista e professora de artes, vêm agitando o setor com diferentes propostas e atividades. Para a mostra em homenagem a São Leopoldo, reuniram o trabalho de 12 artistas que se debruçaram sobre aspectos da cidade para realizar suas criações. Utilizando como meio a cerâmica, madeira, fotografia/assemblagem, vidro/vitrofusão, o crochê, tecidos bordados e objetos diversos, os artistas nos oferecem uma mostra que denota preocupação com a pesquisa do tema e das técnicas utilizadas, com a expografia e com o acesso aos trabalhos, uma vez que estão sendo agendadas visitas de escolas e público em geral com presença dos artistas.
Participam da mostra:
Adriana Dias
Alice Joana Schimidt
Analisa Eschberger
Estela Seifert
Geny Ceccon
Helena Rossi Tavares
Kláu Brentano
Márcio Gonçalves
Martina Berger
Rosa Berger
Sônoa Schilling
Suzi Berger
Fica aqui a recomendação para a visita de mais esta exposição.
Márcio Gonçalves – Natureza em questão – Madeira reciclada, troncos da cidade de laranjeiras e tinta acrílica