O Conversas no Fórum do último dia 26, contou com a participação de Paola Fabres, curadora, pesquisadora e crítica de arte.

Paola Fabres

Este ciclo de conversas é uma iniciativa do Fórum de artes visuais de São Leopoldo que até meados deste ano esteve sob a dedicada coordenação de Suzane Wonghon, artista, professora e ativista cultural. Esta responsabilidade passou agora para Nei Vargas, doutor em História e Teoria da Arte pela UFRGS e pesquisador do colecionismo em arte.

O Conversas no Fórum surgiu neste contexto e teve como primeira convidada a professora, pesquisadora, curadora e também crítica de arte, Maria Amélia Bulhões que discorreu sobre o sistema da arte, seus meandros e as diversas formas de inserção dos artistas neste universo.  Paola ou Lola como também é conhecida, nos trouxe indagações relacionadas ao sentido de nossas produções artísticas, qual o efeito delas sobre o tecido social, como somos afetados e afetamos nosso entorno.

Paola Fabres teve sua primeira graduação em Design Gráfico e ingressou no Instituto de Artes Visuais da UFRGS visando complementar seus conhecimentos, mas sempre tendo como horizonte a carreira de designer, que naquela ocasião já se mostrava muito gratificante para ela no campo editorial. Em função disso, mesmo tendo grande interesse na teoria e crítica da arte, seu mergulho foi na pesquisa de publicações de livros de artistas no Brasil e na Argentina. Assim se deu o interesse na produção de Paulo Silveira que tem vasto repertório no campo editorial, no trabalho de Edgar Antônio Vigo da Argentina e na produção editorial de Paulo Bruski, todos grandes nomes das artes visuais.

Essa pesquisa levou Lola à prática de constantes viagens garimpando informações em acervos que na época contavam com um mínimo de material digitalizado. A pesquisa tinha que se dar diretamente nos arquivos dos artistas. A partir daí a graduação transformou-se na porta de entrada para o mestrado em história, teoria e critica de arte, alterando completamente os planos originais de um mestrado em design gráfico.

Hoje sua prática já não está mais tão diretamente ligada aos arquivos visto que o foco passou a ser a produção de arte contemporânea. A pesquisa histórica facilita a análise, conforme Lola, justamente pelo distanciamento do tempo. Trabalhar no hoje tem a vantagem, por um lado, de se estar lidando com artistas vivos, com seus depoimentos e oralidades, mas apresenta seus desafios, justo porque exige um entendimento desta produção que está se constituindo e isso é muito desafiador.

No campo de produção textual são muitas as colaborações em publicações, produzindo e orientando a produção de textos. Cito aqui a revista digital ArteContexto criada em parceria com Talitha Motter. Trata-se de uma plataforma colaborativa que visa a reflexão e discussão sobre o cenário artístico de Porto Alegre e outras localidades. Além disso a equipe também atua na realização de curadorias, cursos, palestras e eventos culturais. Não deixe de conferir em http://artcontexto.com.br/

Dentre os inúmeros projetos que participou da coordenação saliento a Residência  Uberbau_house,  um desdobramento do projeto  Curatória Forense que existia de forma nômade na América Latina e que a partir de  2016 passa a  ocupar uma casa no bairro de Pinheiros, São Paulo. Em agosto de 2018, a sede se transfere para um apartamento no emblemático edifício Copan (projetado por Niemeyer) no centro da cidade de São Paulo.

A Uberbau_house articula uma série de atividades pedagógicas, intercâmbio de experiências, projetos de pesquisa, constituindo um acervo de iniciativas coletivas de arte em toda a América Latina, além de uma biblioteca especializada. Paola participou diretamente por dois anos deste projeto junto com Jorge Sepúlveda (Chile) e Guillermina Bustos (Argentina). A residência ainda existe e pode ser conferida no endereço http://www.uberbau-house.org/site/

Outra Residência é a Comunitária uma iniciativa da  Asociación de Arte y Cultura de Lincoln, na Argentina com apoio da municipalidade e em colaboração com a Cooperativa de Arte y Curatória Forense. Essa residência envolve a cidade de Lincoln, muito bem provida de atividades culturais, e seus 10 distritos rurais nos quais arte contemporânea ou mesmo a cultura de visitação de exposições, não fazem parte do seu dia a dia. Estava aí colocado o grande desafio de organizar um programa que não reproduzisse a lógica da fruição de arte em espaços expositivos, que a princípio não faria sentido nesses ambientes rurais, mas que criasse uma relação de duas vias entre estes universos. Dessa reflexão surgiram propostas que envolviam imersões e realização de trabalhos que se davam a partir das articulações sociais com determinado contexto, a partir da escuta e da vivência do que o próprio território estava assinalando. Na internet pode ser encontrado em

https://residenciacomunitaria.com.ar/web/home

Aqui no sul se deu a Residência CASCO, um programa de integração Arte e Comunidade, direcionado ao Litoral Norte do Rio Grande do Sul, nos municípios de Osório, Maquiné, Terra de Areia, Itati e Três Forquilhas.

Além da convivência com os moradores, o programa proporcionava a interlocução dos artistas selecionados com historiadores, representantes da comunidade civil e entidades locais, contribuindo para a concepção de trabalhos que estivessem integrados às localidades e às suas dinâmicas.

Assim durante o mês de fevereiro de 2021, doze artistas visuais do Rio Grande do Sul e de outros Estados do Brasil residiram individualmente nos diferentes distritos. São eles: Daniel Caballero – Aguapés, Daniel Escobar – Atlântida Sul, Fabiana Faleiros – Barra do Ouro, Tomaz Klotzel – Borussia, Pablo Paniagua – Itati, Carolina Cordeiro – Maquiné, Charlene Bicalho – Morro Alto, Lilian Maus – Passinhos, Thiago Guedes – Sanga Funda, Dirnei Prates – Santa Luzia, Arthur L. do Carmo – Terra de Areia e Teresa Siewerdt -Três Forquilhas.

Programas como esse têm como resultado algo que vai muito além dos vídeos, performances, fotografias e catálogos produzidos. Artistas, comunidade e até mesmo os organizadores saem destas experiências com uma visão ampliada, de si mesmos, do local de pertencimento, das relações humanas, da natureza e sobretudo do outro.

Percebemos isso ao ler os textos que acompanham cada trabalho, ao ver as fotos que podem ser registros de ações, registros das produções ou o trabalho em si e ao ver os vídeos realizados pelos artistas. Tudo está no site Residência CASCO. Se no lugar de fruidora da produção já pude sentir as expectativas, as ansiedades, as dúvidas, as alegrias, os encontros, os cheiros, ouvir os sons e ficar plena das experiências, posso imaginar os artistas e todos os envolvidos nessa vivência. Imaginem comigo as reflexões surgidas a partir dos diferentes olhares entre artista e moradores locais, artista e paisagem, as descobertas, as reafirmações, enfim, a vida percebida, vida vivida, a arte na vida.

Tudo isso pode ser conferido no site https://www.cascoresidencia.com.br/

Lilian Maus - Passinhos

Lilian Maus, Residência CASCO em Passinhos, Osório, produção do vídeo “ygápéba”, 2021, fotógrafo Marcus Fabiano Gonçalves

Daniel Caballero - Aguapés

Daniel Caballero, Residência CASCO em Aguapés, Osório, parte do trabalho Museu Passageiro do Artesanato Regenerativo do Banhado de Aguapés, 2021. Fotografia de Kim Costa Nunes

Charlene Bicalho - Maquiné

Charlene Bicalho, residência CASCO no Morro Alto, Maquiné, frame do vídeo “Cravadas n´água”, 2021, com Marciel da Silva Forte e Joaquim Soares Goulart da Silva

Dirnei Prates - Santa Luzia

Dirnei Prates, Residência CASCO em Santa Luzia, frame do vídeo “Santa Luzia”, 2021, fotografia de Kim Costa Nunes

Daniel Caballero - Aguapés

Daniel Caballero, Residência CASCO em Aguapés, Osório, 2021, junto com Dona Orlandina, fotografia de Kim Costa Nunes

Teresa Siewerdt - Três Forquilhas

Teresa Siewerdt, Residência CASCO em Três Forquilhas, cromatografias, 2021, fotografia de Kim Costa Nunes